RAFAEL DE SOUSA
COM VEJA
Nas últimas semanas, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) recebeu do presidente venezuelano Nicolás Maduro uma doação de 180 mil hectares de terras no estado de Bolívar, no sul da Venezuela, próximo à fronteira com o Brasil. Esse gesto do governo venezuelano visa a criação da Pátria Grande do Sul, que, segundo a propaganda oficial, será "a maior comuna socialista do país".
As informações são da Revista Veja.
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A ideia de criar um território independente sob a bandeira socialista não é nova para o MST. Durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Xico Graziano, então presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), revelou que os serviços de inteligência descobriram um plano do MST para estabelecer a chamada "República Socialista Guarani" em Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira com a Bolívia.
Segundo Graziano, o movimento estava bastante radicalizado na época, promovendo invasões e alimentando ideias revolucionárias. "A ideia deles era criar uma espécie de enclave, uma região autônoma que se chamaria República Socialista Guarani", explicou Graziano.
Esse plano, no entanto, não avançou, mas o movimento continuou sendo monitorado de perto pelos serviços de inteligência brasileiros.
A Nova Investida na Venezuela
O novo projeto do MST na Venezuela parece ter objetivos estratégicos diferentes. A região onde as terras foram doadas fica a 230 quilômetros da província de Essequibo, um território disputado entre a Venezuela e a Guiana há mais de um século e reconhecido internacionalmente como pertencente à Guiana. Maduro, no ano passado, promulgou uma lei criando a província de Essequibo, o que aumentou ainda mais a tensão na região.
Para o cientista político venezuelano Carlos José León, a doação das terras ao MST é uma estratégia de Maduro para povoar a região e reforçar a posição da Venezuela na disputa territorial.
"Ceder terras para o MST é uma forma de Maduro fortalecer sua posição na região em litígio e, com a presença do MST, ainda pode envolver o Brasil em um eventual conflito", avaliou León.
Preocupações e Implicações
A iniciativa de Maduro e a aceitação do MST levantam preocupações não apenas na Venezuela, mas também no Brasil. A presença de um movimento brasileiro em terras venezuelanas pode ter implicações diplomáticas e de segurança, envolvendo questões de soberania e potencial conflito territorial.
Além disso, a ideia de criar uma comuna socialista em uma região tão próxima ao Brasil reacende antigos temores sobre os objetivos do MST e suas ambições territoriais. Embora o plano de criar a "República Socialista Guarani" não tenha se concretizado, a nova investida na Venezuela mostra que o movimento continua a buscar formas de implementar suas ideias socialistas.
Conclusão
O apoio de Nicolás Maduro ao MST, através da doação de terras, é um movimento estratégico que pode ter desdobramentos significativos na política regional. A criação da Pátria Grande do Sul na Venezuela não apenas fortalece a posição de Maduro na disputa territorial com a Guiana, mas também pode ter implicações diretas para o Brasil, envolvendo o país em questões complexas de soberania e segurança.
